Francisco Rebouças
Há uma frase que no movimento espírita
tornou-se extremamente conhecida, e que qualquer um de nós, espiritistas, já
ouviu alguém se referindo a ela em palestras, estudos ou outras atividades do
movimento espírita, e que por isso mesmo o ouvinte imediatamente acrescenta ao
seu conhecimento de Espiritismo e sai, por sua vez, a espalhá-la multiplicando
velozmente seu conteúdo.
Como não gosto de passar à frente algo
referente à Doutrina Espírita de que não possa apresentar a fonte de onde se
origina minha informação, procurei desesperadamente encontrar a conhecida
frase, que se tornou tão comum e que qualquer um, mesmo sem qualquer base
doutrinária, hoje em dia se faz portador de sua mensagem passando à frente o
Espiritismo, sem qualquer base em seus postulados divinamente codificados pelo
digno seguidor do Mestre de Nazaré.
Só então me pude dar o direito de também
acrescenta-la em minhas modestíssimas anotações doutrinárias, para então poder tornar-me um divulgador de
seu conteúdo, não como sempre ouvi e li, nos diversos meios de comunicação com
que tive contato, bem como em palestras, seminários, livros, revistas,
programas de rádios etc., mas, sim, como em verdade ela nos foi transmitida por
seu criador, o querido benfeitor Emmanuel.
A frase a que me refiro é esta: “a maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua
própria divulgação”. Ora, quem procurar essa frase nos livros de
Espiritismo ditados por Emmanuel a Chico Xavier, não será bem sucedido em sua
busca, pois a tal frase, tão corriqueira no movimento espírita, não está
escrita dessa forma nem foi pronunciada pelo citado benfeitor dessa maneira.
A referida citação está contida no livro
“Estude e Viva”, ditado pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografado por
Chico Xavier e Waldo Vieira, e consta do capítulo 40 da referida obra,
intitulado Socorro Oportuno, o que nos mostra como as coisas são alteradas ou
modificadas voluntária ou involuntariamente, quando passadas de um para outro
interlocutor; senão vejamos como está no livro: “(...) Lembra-te deles, os
quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes
estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao
clarão da mensagem de Jesus Cristo,
e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o
Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da
sua própria divulgação”. (1)
Em momento algum identifiquei no conteúdo do
parágrafo acima que a divulgação do Espiritismo seja a maior caridade que podemos
fazer pela doutrina espírita. Penso
que a observância e vivência correta dos seus postulados ainda é a grande
finalidade da doutrina espírita ao seu sincero seguidor, pois, da forma
como ela vem sendo difundida por grande parcela de “espíritas” que não conhecem
seus postulados, não é verdadeiramente nenhuma forma positiva de caridade para
com ela, e sim um enorme desserviço prestado contra sua digna e elevada
mensagem. Isto porque o Espiritismo nos solicita que estudemos a codificação,
que é a mensagem do Consolador Prometido por Jesus, tão bem elaborada pelo fiel
Discípulo do Mestre de Nazaré, para a vivência da mensagem cristã, contida no
evangelho ensinada e exemplificada por Jesus, para só então, sem que seja
preciso fazer qualquer alarde, a espalhemos em forma de atitude, na ação da
caridade em favor do nosso semelhante, testemunhando com nosso próprio trabalho
na plantação da semente do bem para que possa germinar, crescer e dar bons
frutos.
A referência de Emmanuel ao estudo das obras de Kardec não é citada, mesmo fazendo parte do
mesmo pensamento no assunto enfocado, e que por essa razão não pode ser
desprezado ou esquecido como se não tivesse sido pronunciado. É por
essa razão que a divulgação da doutrina espírita segue sendo difundida sem qualquer
cuidado com a fidelidade doutrinária, que todo e qualquer espírita
consciente deve ter como meta primordial;
essa é a razão de hoje em dia se aceitar verdadeiros absurdos como sendo
obra espírita, quando não passam de ridículas obras mediúnicas, e o pior, são
aceitas até mesmo por grande número de “espíritas” que, sem conhecerem os
fundamentos da doutrina que dizem professar, mas que não professam
verdadeiramente, a elas se referem com entusiasmo, como se estivessem falando
do conteúdo da mensagem espírita codificada pelos Nobres Imortais sob a
supervisão do próprio Jesus.
Precisamos tomar cuidado com as frases
corriqueiras, e prestarmos mais atenção ao conteúdo do que à forma, para que o
mais importante das mensagens que nos cheguem ao conhecimento não seja
simplesmente aceito sem uma análise mais apurada em todo o seu conjunto, e,
sim, que seja devidamente apreciado e absorvido pelo crente sincero da doutrina
espírita, e, se for portador de um bom conteúdo, aí então dele se utilizará
para sua correta divulgação.
O espírita sincero deve ter por lema: “fora da caridade não há salvação” ,
(2) mas deve observar que essa máxima
precisa ser devidamente compreendida para não ser interpretada ao bel prazer de
quem quer que se ache tão absolutamente dono da verdade, pois a caridade não
dispensa o cuidado que todos devemos ter em observar que “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em
todas as épocas da humanidade”, (3) e que por isso mesmo, não podemos nos
deixar descuidar da razão e o bom senso.
A principal caridade que podemos fazer é a nós
mesmos, em primeiro lugar, estudar a mensagem cristã contida no evangelho, como
nos alerta Emmanuel, seguindo Jesus através de Kardec, e efetuarmos nossa
transformação moral-espiritual, para que, fundamentados no cristianismo
redivivo que o Consolador nos veio trazer, possamos dar testemunhos como nos
alerta o benfeitor: “seja no exemplo ou
na atitude, na ação ou na palavra , de que seguimos Jesus, como fiéis
discípulos respeitáveis divulgadores da sua sublime mensagem, sem achismos ou
modismos condenáveis sob todos os aspectos.
Em O
Evangelho segundo o Espiritismo encontramos a bela mensagem que o Espírito
de Verdade nos transmitiu e que transcrevemos a seguir: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem
humana os erros que nele se enraizaram”. (...) (4)
Precisamos entender que o Cristianismo contém
todas as orientações de que necessitamos para fazer crescer em nós os valores
morais que dormitam em nosso íntimo, desde nossa criação, e que só o estudo
sério, constante e disciplinado da doutrina espírita dar-nos-á a necessária
capacidade para melhor compreender as atitudes infelizes e os defeitos do nosso
próximo, ampliando nosso poder de discernir melhor para melhor agir,
utilizando-nos dos recursos hauridos nos conhecimentos adquiridos nesses
estudos, para vivenciar em nosso dia-a-dia as lições com que os Espíritos
Superiores nos instruíram sobre a verdadeira caridade como a entendia Jesus: “Benevolência para com todos, indulgência
para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas” (5)
É hora de tomar uma atitude de serenidade e
seriedade em tudo o que pretendemos falar com relação à doutrina espírita, não
mais agindo como simples repetidores do que ouvimos alguém dizer, e, sim,
procurarmos falar com responsabilidade apenas do que realmente conhecermos com
segurança e que esteja contido nos postulados da codificação do Espiritismo.
Fontes:
1. Estude e Viva – FEB 9ª edição, cap. 40, pelos espíritos Emmanuel/André Luiz, médiuns: Chico Xavier/Waldo Vieira.2. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, Cap. XV, item 10.
3. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, frontispício.
4. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, Cap. VI, item 5.
5. O Livro dos Espíritos, FEB, 76ª edição, pergunta 886.
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